2009/10/22

Viver em sociedade

Hoje vou contar uma história, ou melhor, duas. A do ciganito e a do menino rico. São duas histórias contemporâneas, tão falsas quanto possíveis de existir.

O ciganito cresceu na sua comunidade pouco regrada, habituado a ter que fazer pela vida. Foi crescendo sem apoios, sem ser guiado. Sem que lhe ensinassem o que era certo e o que era errado. Deixado à deriva e impedido de estudar porque se achava isso nada lhe traria. Ciente de que os seus pedidos não seriam ouvidos e que os seus desejos nunca passariam da sua cabeça e sempre descartados. As suas vontades reger-se-iam pelas do patriarca Vivia a marginalização de ser diferente de toda a outra sociedade. Um inadaptado porque as suas regras e vivências não eram bem vistas pelos “adaptados”. Queria brincar, estar com os outros, mas os outros não queriam estar com ele. Ele era um inadaptado… um sem regras… alguém a afastar. Foi crescendo e procurando maneiras de fazer dinheiro fácil e, se possível, sem ter que dar parte dele à sociedade que o marginalizava. A revolta foi aumentando. Um revoltado.

O menino rico, filho único, tão só porque os pais não tinham tempo para mais, cresceu num colégio privado, um dos melhores e muito bem reputado. Cresceu sujeito a uma infância rigorosa. Sem tempo para nada. Uma infância roubada através de brincadeiras controladas e definidas por tutores… adultos. Carências afectivas compensadas por bens materiais. Obrigado a estudar para algo que ele não queria ser. Ensinado desde cedo que o mundo era cão, que era necessário ser-se esperto. Não dar abertas. Uma imposição de ser sempre melhor que os outros e a qualquer preço. Competitividade e ambição desmedida eram as palavras de ordem. Obrigado a crescer muito rápido sem decisão sobre o rumo a tomar. Foi-se tornando cada vez mais impiedoso e senhor de si mesmo. Comendo tudo e todos os que lhe aparecessem à frente e sem lugar para amigos, que não fossem de seu interesse.

Em comum? Duas pessoas transformadas pela sociedade, um porque tentou fugir dela e, consequentemente, tornou-se numa vítima desta… outro porque simplesmente acatou todos os “valores” que esta transmite e se tornou no seu expoente máximo. Haverá um meio-termo? Como terá crescido e viverá quem se encontra neste ponto? Como eu? Como classificar-me? Um eterno descontente que se vai acomodando?

Tentemos aprofundar um pouco as histórias. Onde estarão os dois personagens agora?
O cigano é pai de uma série de filhos, trata-os pior do que o pai o tratou, espelha a sua revolta neles e receio pelo expoente de revolta que estes acumulam.
O Homem de negócios tem mais dinheiro do que necessita, vive sozinho pois filhos são uma perca de tempo… talvez pense nisso quando necessitar de assegurar a descendência dos seus bens. Será ele feliz?

Onde estou eu agora?

Com um blog onde tenho a mania que reclamo, onde exteriorizo aquilo que vou sentido e que muitas vezes sou obrigado a engolir, tão simplesmente porque tenho que desempenhar um papel nesta sociedade. Nesta sociedade onde serei comido pelo Homem de negócios e sofrerei a revolta do cigano.

Afinal tudo conflui. Estamos todos na mesma corrente.

2 comentários:

  1. Primeiro - Não penses muito nisso, não vale a pena. Aliás, deves ter-te esquecido de mais uns 150 esteriótipos que não mencionaste. E lembra-te que nalgum deles hás-de caber tu...lol.
    Segundo - Já pensaste em vender esta história ao grupo mexicano Televisa? Se acrescentares um casamento impossível entre as duas partes e dividires tudo por 143 episódios...tens aí uma novela para render muitos euritos!

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  2. Onde estou eu agora?

    Com um olho no burro e outro no cigano!

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