2011/01/28

Confiante

Confiança. Termo estranho. Assunto difícil.

Adoro confiar. Confiar nas pessoas. Confiar na vida. Confiar na boa sorte. Confiar na má sorte. Confiar em tudo e sobretudo na desconfiança. Quando desconfio dificilmente ganho confiança. Sou um gajo duro. Um gajo camaleão, estrábico… zarolho. Olho em frente mas um dos olhos insiste em olhar para o lado. Vou a direito mas sempre à espera da curva. Não sou apanhado desprevenido ou pelo menos nunca fui. Sei com o que conto, com quem contar e para onde ir. Adoro dar a confiança, desconfiada.

Um povo contente, o rei sorri, o presidente acena, todos dizem sim, eu assisto. Observo um povo que segue a manada. Observo um rei de cara congelada (só sabe rir). Vejo uma mão do presidente a acenar e outra a fazer figas. Pergunto-lhes porque dizem sim respondem-me porque sim.
Eis que chega outro Rei. Tem um sorriso mais branco. Eis que chega outro Presidente. Tem um acenar mais vigoroso. O povo vira costas, segue a manada. Todos começam a dizer não, para dizer sim aos novos rei e presidente.

Pois. A confiança não se conquista assim. A verdadeira confiança não se conquista assim. Num só gesto, num só sorriso. É um todo. Um saber estar, gerir, lidar, apoiar e confiar…
Eu gosto de ver todos estes reis, todos estes presidentes e todos os hipócritas. Eu não estou lá. Sei o que é a confiança e sei dá-la a quem a merece. Truques de quem observa, de quem lê. De quem dá espaço para que cada um deles caia. É esso o truque de saber em quem confiar. É ser idiota, parecer idiota… Ser paciente, deixar ir e correr... O tempo não mente e o mais fraco é aquele que se acha forte. Dá-lhe a força. Quando ele perceber o quão fraco é já será tarde demais para reagir.

Eu sou assim:
Sei que confio em quem me dá razão para isso.
Sei que dificilmente me conquistam a confiança.
Sei que raramente me engano na desconfiança.
Adoro a confiança que me dá o saber confiar e desconfiar.
Adoro confiar.
Adoro ter gente em quem posso confiar.
Adoro mandar à merda aqueles em quem não confio.
E, aquele em quem não confio, jamais me conseguirá agarrar.

Hoje estou:
Cansado. Agastado. Agoniado. Demasiada confiança já me deu a volta ao estômago.

2011/01/19

Tempo

Não sei do tempo, perdi-o algures no passado. Não tenho tempo para nada e, no entanto, parece que tenho todo o tempo do mundo. Tarefas que vão sendo colocadas para trás, obrigações que vão sendo cumpridas, sonhos que vão sendo alimentados. Tudo ao sabor do tempo, o tempo que perdi e vou perdendo. Não sinto a confiança abalada, muito menos a certeza de paz futura mas tenho uma falsa paciência. Sinto-a a corroer-me os sentidos e vontades. Nunca fui gajo de sobrevivência ou acomodação. Sempre sorvi vida e quero voltar a esse estado. Ter tempo e estabilidade para me entregar à vida. Por enquanto adio, espero... sobrevivo...

Pode ser que, entretanto, o tempo volte a ser tempo.

E não me estou a queixar. Até porque de nada me posso queixar...