2009/05/14

28(18+10)

Avizinha-se um texto complexo que, para mim, é complicado escrever, extremamente dificil de manter, impossível de persistir num fio e numa coerência de discurso. Uma série de ideias iniciadas, muitas delas descartadas e outras que com certeza serão reaproveitadas. Umas com essência, outras nem por isso. Muitos desabafos, muitas incertezas, muitas questões e milhares de certezas acompanhadas de receios.
Esta é uma fase de redefinição, a fase que une os 25-28. Não sei se durará mais tempo pois a experiência dos 28 ainda é curta mas, face à reflexão que lhe tenho dedicado e às conversas que tenho tido com quem também gosta de reflectir, posso indicar que é normal e que será superada – uma espécie de segunda adolescência - em que cada ser individual acaba por lidar com ela de maneira distinta (felizmente não somos todos iguais). Em que a forma como a ultrapassamos e encaramos, tem repercussões no percurso que se avizinha. Uma fase transitória em que vivemos num limbo entre o “eternamente jovem” e o “estou a ficar velho”. Uma fase em que misturamos num copo o passado, o presente e o futuro acabando por perder a noção do que estamos a beber.
É engraçado como achamos que os 18 (o topo do pós 1ª adolescência) marcam o início da independência. Larga-se o ninho, parte-se para outras paragens mas, na realidade, continuamos dependentes. Mais que isso, continuamos inconscientes. Não compreendemos o que na realidade é a vida, o que na realidade são traições, jogos, más influências ou o peso de más decisões. Simplesmente continuamos a ser amparados, continuamos dentro de uma redoma que nos segura os sonhos, as ilusões e as convicções. Somos felizes com o que temos e fazemos planos para quando tivermos aquilo que julgamos que é importante e que ainda não temos. É uma maravilha! Farei isto, serei aquilo… um mundo cheio de novas oportunidades.
Nessa altura o tempo passa devagar, com tempo para tudo. As hipocrisias praticamente não existem pois o dinheiro é pouco, posições, pressões, obrigações ou disputas não existem. Achamos que somos reis do mundo, que temos força para mudar mentalidades e que realmente iremos construir algo. Olhamos e vemos as boas amizades que conservámos desde os 18 e as boas amizades que fizemos a seguir. São tantas que acabamos por ganhar a convicção de que nada se vai perder porque temos o direito à escolha e estaremos sempre todos juntos.
Depois entramos nesta fase, os sonhos rompem-se, questionamos tudo e todos. Questionamo-nos a nós próprios. Saltamos entre o eufórico e o disfórico. Receamos tudo o que esteja relacionado com o futuro. Custa-nos encarar a solidão. Não estamos habituados a ela. Tivemos sempre tanta gente boa à nossa volta. Chegamos a duvidar da expressão popular “mais vale só que mal acompanhado” e temos vontade de arriscar unicamente por medo. Para ajudar na festa, venha a crise, traga com ela a insatisfação geral e a insegurança. Atire com a nossa confiança, que já não estava alta, para um plano raso. Comentemos entre nós que anda tudo doido mas sem que antes nos vejamos ao espelho. Olhamos pelo ombro e damos por nós a pensar “quem me dera estar assim ou ser assim”. Surgem as questões. O que fizemos? O que gostávamos de ter feito? O que faremos? Para onde queremos ir? O que queremos fazer? Teremos escolhido bem? Teremos agido bem? Queremos a estabilidade. Onde é que ela está? O que é a estabilidade?
E Hoje? A caminhar. Descobri que existe a esperança. Descobri que é preciso calma. Descobri que é errado seguir direcções, pior ainda evitar cruzamentos e ganhei a convicção de que os desvios me irão conduzir ao sítio certo. Não preciso de me precipitar, cairia no erro que outros caíram. É necessário deixar fluir. Deixar o tempo correr e na altura certa agir. Começo a ganhar percepção daquilo que quero mas por enquanto evito. O tempo é de aguardar, esperar por sinais, por sensações e então aí agir. Não desejar mais do que aquilo que vier ter comigo. Não procurar, muito menos forçar.Claro que continuo com receios, muitos dos quais impedem certezas, há que os resolver. Descobri coisas sobre mim. Viajei pelo passado, revisitando sensações e situações. Por mais que por vezes custe olhar para ele, este nunca deve ser enterrado. Nele se encerram resoluções que nunca foram encontradas e explicações para o que sentimos agora. Numa próxima viagem, espero que quem se encontra nela tenha gostado de a fazer, relerei textos dos meus 18/19 anos. Desde já prometo colocar aqui um deles - o mais revoltado deles todos.

Se chamaram à primeira adolescência a idade da rebeldia, perdoem-me a displicência, de apelidar esta segunda de "a idade do susto".

Para terminar gostaria de dizer que esta é a minha opinião. Como referi anteriormente, cada qual tem a sua maneira de lidar com ela, de a analisar e ultrapassar. Esta é a opinião de um sonhador. Quis partilhá-la convosco e gostava de deixar o repto para que cada um de vocês deixasse também a opinião sob a forma de comentário.

8 comentários:

  1. Antes de mais faço já o p.s.: adoro esta música, adoro este cd, recomendo , "clã e sergio godinho". Lindo!

    Apetece-me dizer umas quantas coisas mas não sei :s sou grande e pequena, percebo tudo e não percebo nada... tenho receio de tudo e mais alguma coisa, mas os dois maiores receios/medos são a solidão e a dependência.
    Vivo com muito menos sonhos do que outrora e acredito menos na sua realização do que antes. Não sei se é um caminhar prá realidade se é o descrédito em mim mesma.

    Continuaremos a reclamar, a lutar como possível for e a tentar ser aquilo que todos querem e precisam, felizes.

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  2. A vida vai-se encarregando de nos surpreender pela positiva também!:)Ainda assim, como será o teu post no dia em que fizeres 40 anos? Que medo...

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  3. o dia de cada vez ou o medo da sombra de ontem e da cegueira de amanhã

    é realmente possível que este seja um tempo da total e mais absoluta incoerência e que nós nos vejamos apenas mergulhados numa espécie de lodo existencial e que julguemos que não há saídas. julgar que não há saídas é bom, deixa espaço suficiente para uma esperança de resolução de melhores dias... etc... etc... na verdade já não há saídas, logo já não vale a pena ter esperança, logo é a lógica do dia de cada vez que comanda a vida que já deixa na verdade de o ser. a vida deixou de ter sentido como tal, passou a ser um compromisso qualquer com uma abstracção da sobrevivência. o presente não existe, vi isto num filme, o presente quando se nomeia é já passado, o presente é a ilusão parva da vida. quando se diz que se deve viver o presente não se tem nunca noção do que se evoca nessas palavras. quanto a mim, viver o presente é uma treta tal como viver o passado o é, tal como projectar a vida num futuro qualquer que não vai nunca acontecer o é, mas isso sou eu que acho isso e só acho isso porque perdi o rumo e a luz, mas isso é outra história. a caixa de comentários é pequena para ter noção do que se escreve. posso ter-me perdido no discurso. é costume na minha cada vez mais habitual incôerência. adiante, chega de lamentações. cada pessoa é uma linha. cada linha é única. cada linha tem as suas características, os seus enredos, os seus materiais, as suas cores. neste momento não sei se é importante lutar por uma qualquer felicidade, o que é isso da felicidade? da mesma maneira que não acho já que valha a pena lutar contra o medo, o medo circula nas coisas, respira-se nas coisas, come-se, acorda quando nós acordamos depois de nos ter massacrado os sonhos silenciosos, o medo e a felicidade... duas belas palavras para esquecer. é o medo de não ser feliz que nos arrasta cada vez mais para o lado absurdo das coisas, é a ilusão cega, a ambição de uma felicidade total, entranhada num sistema de mentiras que enfiamos nos olhos e nos pensamentos e nas decisões e nas escolhas e em tudo o que fazemos. pronto, é muito legítimo lutar pela felicidade... mas o que é que isso terá de glorioso ou de belo ou do que quer que seja? nunca iremos ser felizes, poderemos talvez ter uns momentos, uns instantes, uns safanões. a felicidade é uma formatação que nos enfiam no cérebro para que se confunda com a cegueira. o ser humano não quer ser feliz, o ser humano quer ser tranquilo, quer ter a sua vida calma, quer que não lhe falte nada, quer o seu conforto, quer descomprometer-se com as coisas, cada vez acredito mais nisto. desde quando é que o grande problema do mundo é a felicidade? isso é a nossa treta de ocidentais europeus, confortáveis na nossa crise mental. agora que tenho 29 e já estou quase quase nos 30 ando com ideias de me pisgar para África, está bem que também é porque não tenho nada a perder, tudo o que tinha evaporou-se em menos de nada, assim... se o tudo se pode perder enquanto o diabo esfrega o olho, para que é que vale a pena andar para aqui com tretas e com pensamentos nas alturas? não vale de nada, vale menos do que nada. a felicidade não existe num mundo que não tem solução. porque se o mundo tivesse solução a felicidade nunca seria um objectivo. se pensarmos bem em quais são as nossas vitórias pessoais a que coclusão é que chegamos? são tudo vitórias carreiristas, de saltos na vida, de fiz aquilo, atingi aquilo, cheguei a um objectivo, consegui um bom trabalho, é assim... as vitórias pessoais só passam por coisas completamente alheias à vida vida. cada vez se ouve menos gente a dizer que se orgulhava de amar este ou aquele, ou que se orgulhava de partilhar a sua vida com este ou com aquele!!! o mundo anda em crise, as pessoas andam em crise, as relações andam em crise, anda tudo em crise e as pessoas fazem o quê? avestruz!!! enfiam a cabeça na terra e contentam-se com as vitórias da superfície, é o carro, é o trabalho, é a posição social, é o conforto do lar, etc... etc... qual é o futuro? é simples, não há futuro. não há futuro nenhum. ou talvez haja e a mim é que não me interesse, esta proposta de mundo não me interessa, é o desencanto. mas o que é que isso importa???

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  4. Idade do susto?

    Lodo existencial?

    É isso tudo...

    No outro dia enquanto estava a empilhar umas pedras para fazer um muro ocorreu-me o porquê de o fazer... E pensei cá para mim: "um gajo tem que ocupar o tempo até morrer..."

    Só que depois há fases em que uma pessoa não pensa bem assim... Há fases boas, em que se anda a sonhar, em que estamos tão distraídos que não pensamos no absurdo existencial...

    Uma pessoa tem é que ocupar o tempo até aparecer uma fase dessas. E depois deixar-se ir e aproveitá-la ao máximo.

    Eu estou à espera de uma fase dessas e, confesso, já tive menos paciência para a espera do que tenho agora...

    Uma coisa é certa, ela chega sempre, invariavelmente...

    Um grande abraço! :)

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  5. De facto tinhas razão...
    Consigo encontrar no teu texto uma infinidade de sentimentos que sinto neste momento.
    E é quando recordo o passado que percebo que era tudo mais facil e sincero, agora é cada um a puxar por si, parece que vivemos numa selva.
    Mas por mais que nos custe a viver o presente penso que tudo tem um propósito, os acontecimentos não passam pelas nossas vidas por um simples acaso.
    Beijos.
    Gostei muito do texto, encontrei-me lá muitas vezes.

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  6. Pois é, caro "reclamador de serviço", a adolescência agora tem várias fases que se prolongam até à velhice, digamos até aos 80 anos. Aí também teremos medo, mas de outras coisa. No presente acho que a atitude correcta é mesmo o "deixa fluir", tipo folha ao sabor do vento. Concordo 200% com a tua frase: "Não desejar mais do que aquilo que vier ter comigo. Não procurar, muito menos forçar.". Quanto mais ambição se tem, mais uma pessoa se desilude, mais se consome, mais desespera. Realmente o melhor é receber de braços abertos o que nos é dado e esperar por melhores dias. Que tenho a certeza que virão!

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  7. claro, hoje enquanto estava a preparar-me para ir trabalhar estive a pensar na expressão "lodo existencial"... não é muito boa... é até um bocado infeliz se vista friamente... claro que temos de nos entreter... é o que nos resta. é o Sísifo, condenado a arrastar a pedra!!! bem, fónix, estou com os copos e só vim desabafar. o que é que isso importa? olha, que me expulsem.

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  8. Fico grata por teres um link do meu blogue, eu tb vou passando por aqui.
    Como eu te entendo... as saudades que eu tenho da adolescência, as angústias que eu tenho hoje, ainda pensei: será que me imaginaria aqui e a viver isto que hoje vivo e ser isto que hoje sou?
    Tinha tantos sonhos e tantos planos, mas a vida tem vontade própria e assim fui levada esquecendo de sonhar.
    Como é urgente o sonho, como persistente deve ser o gesto de lutar. bjs

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